quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Olhar


Desta forma, não vejo teus olhos.

Levante tua cabeça e encare,

Não sou tão forte,

tão pouco tão frágil

que não suporte

ou simplesmente não deseje

a sorte que carrega a verdade.


Trâmites


Me derramo, me espalho, me proponho,

me entrego, me canso,

me vingo, me surpreendo,

me calo, me expulso

me viro, me nego

me olho, me cego

me rastejo, me levanto

me sinto, me temo

me digo, me cobro

me arrependo, me recomeço

me ignoro, me valorizo

me quero, me desprezo

me toco, me sufoco

me rabisco, me lapido

me canso, me perdoo

me ofendo, me mato

me crio, me solto...

e de repente, me vou.
 
voo.
 
por Raquel Duarte




terça-feira, 24 de maio de 2011

Tempo

Ainda satirizo os relógios do mundo. 
Cada marca do tempo que tenho em mim, é de certa forma, orgulho.
Ainda sorrio do mesmo jeito.
E sei o quanto a entrega é perfeita, se for completa.
Assim, caminho.
Passos largos para despaginar essa história, de encontros e desencontros.
 Perdas e conquistas. 
Gritos e segredos. 
Sei tão pouco, mas ainda tenho comigo as mãos abertas, de quem acredita nas improbalidades.

Ócio

Saborear o nada.
Valorizar o sono.
Iluminar minha preguiça.
Desprogramar uma rotina repleta de tarefas.
Ouvir o próprio bocejo.
Não ir. Não ter que nada.
 Apagar a luz e fechar as janelas a qualquer hora do dia.
 Andar só com meias. 
Só comer quando tiver fome, só beber se tiver sede, só falar, se tiver som.
 E ter todo o tempo do mundo para só ser.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Adeus

Então tá. Me despeço dessas vertigens, desses sintomas, dos desejos insanos. Rasgo os novos pensamentos camuflando-os de velhas ideias. Esqueço do riso solto, de caminhos percorridos, medos ultrapassados.

Abato a vontade. Calo todas as queixas. Resumo esta história em uma única página de livro. Para ler, reler e assim, guardar apenas o sabor para arrancá-la de seu lugar.

Sempre soube que o pra sempre é talvez por hoje. Então, por que  não queria ir embora antes de mergulhar de novo neste mistério?

Sei que as respostas nunca virão. Se foram com o vento do percurso que me conduziam a você.

Então te deixo com estas lembranças poucas de um talvez que nunca se findará. 







terça-feira, 9 de março de 2010

Lamento

Eis que agora sou algo que já foi
uma noite, um vento, um lamento
um trago, talvez dois
um olhar, o vento
sentimento pra depois

Eis que sou um conto
um mistério, um ponto
talvez um som

e agora sou quase nada

sou uma oferta
na bandeja
sobre a cama
sobre a mesa
pra quem tiver o dom

Veneno

Te aceitei como alguém que tem sede
e te ofertam vinho
Então me deixei embriagar
sem medo, recusa ou limites
Tomei cada gole
lentamente
Saboreando o líquido ruge
que tingia os lábios
e adormecia a língua
Enchi a taça de novo
E bebi ainda mais rápido
deixando cair gotas
que escorreram pelas sardas do meu colo
percorreram entre meus seios
penetraram a pele
rasgaram meu peito
e habitaram em mim
desde então
herdei esta sede
que não se finda
só multiplica
de querer você